sábado, 5 de julho de 2014

Vomitei Copa.

Nunca gostei de futebol. Mas copa é copa. De uma forma ou de outra, a gente se envolve. Tipo uma novela. É um assunto que todo mundo tem algo a dizer, independentemente de qualquer coisa. É bom rir da criatividade das pessoas, das alegrias compartilhadas e a sensação de histeria que dá em toda gente.

No exterior, ver os jogos do mundial, entender as emoções de pessoas de outras nacionalidades ao ver seus ídolos e gols, mesmo que sejam minoria numa multidão de gente de outra nacionalidade (beijo pro pessoal da Costa Rica) é um pouco indescritível. Enxergar-se rodeado por outros brasileiros durante um jogo da seleção é particularmente confortante, principalmente quando se nota que, há cinco meses, estava num lugar ermo, desconhecido, sem qualquer referência geográfica ou afetiva e ser brasileiro significava, muitas vezes, ouvir algum comentário maldoso (inocentemente ou não) sobre o país.

Esse turbilhão de sentimentos, no entanto, não significa qualquer minimização do massacre, expulsão da população pobre e negra, a exploração sexual e as demais violações de direitos que foram característicos desse (e de muitos outros) mundial. É um dos motivos que evito cantar os gritos de guerra da torcida, viver intensamente qualquer sentimento patriótico que tente ser transmitido. Sem falsos puritanismos, também não consigo separar o futebol, e a consequente paixão, de toda a infraestrutura criada para que houvesse a "Copa das Copas".

A “novela” da Copa não começou no 12/06/14 e os auges dramáticos não foram o gol contra da abertura (extremamente simbólico, arrasou Marcelo!), o sufoco com o México, os pênaltis com o Chile ou o recente machucado do Neymar. Tem gente sem casa, tem gente sem um parente, tem gente sem vida. Tem gente sendo presa porque denuncia tudo isso. Tem uma nação abrindo mão de sua soberania enquanto sua população grita gol.


Para além de tudo isso, a postura de alguns - muitos - brasileiros vem me incomodando muito. Conhecidos por nossa alegria, espontaneidade e receptividade, utilizamos o desígnio de "país do futebol" (dada por sabe-se deus quem) para destilarmos comentários xenófobos, racistas, misóginos, homofóbicos, transfóbicos para Deus e o mundo. Quando o jogo não basta, a petulância de gritar: "a Copa tá comprada!". Um viaduto, construído para o mundial, caiu e matou duas pessoas. Mas a vértebra do Neymar justifica o fim do “sonho do hexa”, justifica xingarem, e ameaçarem de estupro a filha do jogador que atingiu – acidentalmente, até que se prove que não - o camisa 10 da canarinha. 

Por enquanto, desejo melhoras ao Neymar, ao futebol-negócio, ao Brasil. Segue minha indiferença, agora mais forte. Patriotismo (na real, a quem serve o patriotismo? "Os corações, assim como as pátrias, não deveriam ter fronteiras") e vontade de mudar o Brasil não vão ser medidos por uma estrela a mais ou a menos no brasão da CBF.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Dessa vez, literalmente.

Quando criei o blog, a intenção era que fosse um espaço de escrever pensamentos e bobeiras da vida. Nem isso deu certo. Depois da empolgação primeira, faltou inspiração e só postei dois textos. Retomando a ideia, ainda que falte inspiração, não faltará história pra contar.
Ainda que a gente desconsidere a fase pré-intercâmbio e torça para que chegue logo a grande data da viagem, os momentos que antecedem são essenciais. Escolha da Universidade, Processo Seletivo, Passaporte, Visto, Malas, Previsão do Tempo, tudo contribui para deixar a viagem mais nervosa e garantir aquele frio na barriga.
Aleatoriedades, rotinas e fugas.
Uma vez li em algum lugar – tipo aqueles livros “ajude a melhorar seu cérebro” que você lê durante o pré-vestibular – que era preciso forçar mudanças para estimular melhor a capacidade cognitiva. Não entendo muito disso (nem quis), mas “alternar os lados pelos quais se começa a escovar os dentes”, “pegar caminhos diferentes para chegar em casa”, “sentar em lugares diferentes no ônibus, na mesa da cozinha...”, sempre me pareceu algo divertido e desafiador. Não que isso tenha alguma relação com passar seis meses em Porto, mas talvez explique um pouco do meu desapego e de tentar ver lado bom nas mudanças, mesmo que sofridas.
O interesse por viagens foi estimulado por meus pais. A gente sempre viajou, muito mais por Alagoas e o Nordeste. Ficando mais velho e construindo uma formação política, comecei a acompanhar os encontros e construir a FENED. Balanço: cinco regiões do Brasil conhecidas. Pará, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul. Conheci um pouco das caras, sotaques, belezas e mazelas do Brasil.
Ela não merece esse prêmio, e para destruir o dela, eu quero o meu primeiro” e a Geração Y.
Algumas pessoas me perguntam como foi que a ideia do intercâmbio surgiu. Para quem quer ter a oportunidade de ir por meio de uma bolsa, a exemplo do Santander e do Ciência$ sem Fronteira$, é importante sempre observar os editais de mobilidade que abrem na UFAL (F5 no site da Assessoria de Intercâmbio sempre). Além dessas, existe também a opção do próprio intercambista se bancar. Do formulário de candidatura para a Universidade do Porto, pelo que observei, existe uma gama de opções para quem tem o interesse de estudar por lá.
Um pouco de história. Durante as calouradas (aquele período em que a gente tá mais preocupado em tirar a “nhaca” de ensino médio e decorar os nomes “das pessoas que vão passar cinco anos com você” do que prestar atenção no que acontece nas oficinas), sempre citam a mobilidade acadêmica. Eu também deixei passar despercebido. Algumas pessoas foram falando sobre, e meu interesse começou a ser despertado.
Mas com tanta gente boa, seria quase impossível conseguir uma bolsa, o que me deu uma desanimada e me fez retomar o curso natural da vida, principalmente porque o critério sempre fora o coeficiente (uma média ponderada das notas acumuladas ao longo do curso). Minhas frustrações com o direito nunca me permitiram um coeficiente maior do que 8,5, numa sala de “coeficiente ostentação”.
Essa frustração com o direito meio que me empurrou a conhecer novas faces. Centro Acadêmico, Projeto de Extensão, Projeto de Pesquisa, Movimento Estudantil... Imperceptivelmente, acumulei experiências válidas também para o currículo. Foi aí que surgiu a oportunidade da primeira tentativa: uma mobilidade para dentro do Brasil.
Depois de muitas pesquisas e uns telefonemas (haha), decidi concorrer para a UFRJ e bati na trave. Ótimo para a Ana (Aleijada), que teve uma das melhores experiências da vida e brilhou no Rio de Janeiro.
Logo depois disso, a FDA que mudava os critérios para aceitação de horas flexíveis, definiu que criaria critérios para além do coeficiente na seleção de bolsistas, estagiários e tudo que tivesse que selecionar. Ótima iniciativa, por sinal, já que dá uma oportunidade, ainda que não paritária (o peso é 5 para ensino, 2,5 para pesquisa ee extensão), de estudantes extensionistas, pesquisadores e do movimento estudantil também terem boas chances de serem selecionados. Surgiu o edital de bolsas luso-brasileiras Santander, em que concorri e fui selecionado como representante da FDA para a segunda fase.
A segunda fase é a mais nervosa. Aquela em que te colocam de cara com todos os concorrentes – que estão tão nervosos quanto você – para uma entrevista com três professores. É aquela hora em que passam mil coisas pela sua cabeça, em que mesmo que você tenha conversado com outras pessoas que já passaram por esse momento, o corpo treme e você se questiona se realmente está convencido de que deveria fazer um intercâmbio e se sim, porque merecia mais do que as pessoas que estavam ali.
Algo dolorido e não saudável, principalmente quando, apesar de ser constantemente bombardeado pelo individualismo e concorrência ferrenhos, você tenta desconstruí-los. Certa vez, li um texto sobre a “Geração Y” (pós “baby boom”) que apontava justamente como maior defeito nosso, a crença ferrenha de que “se é diferente dos outros e possui um diferencial: é tudo uma questão de te encontrarem/uma oportunidade pra você deslanchar”. Nada mais errado. Nunca me desconvenci que, apesar de uma formação acadêmica, a minha função é ser mais uma peça para fazer a engrenagem rodar, o ponto está em desfazer a engrenagem, mas na base da coletividade.
Depois de notar que todo mundo também estava meganervoso e desconfortável, por qualquer motivo que fosse com a situação, fiquei mais aliviado. Sempre que vejo pessoas nervosas, acabo me acalmando de alguma forma. A entrevista foi bem tranquila: quais meus interesses, porque o intercâmbio, que universidade, currículo, projetos de pesquisa, extensão, monitoria... Dias depois, o resultado dos cinco selecionados.
O mais legal é que durante as entrevistas troquei umas – boas - impressões com três dos selecionados, o que fez com que as angústias com passaporte, compra de passagens, seguro de viagem, visto, carta de aceite, fossem compartilhadas.
Geraldo, prepara o táxi que eu tô indo pra Paris agora”.
Para quem (como eu) acredita que organizar uma viagem de intercâmbio seria tão simples quanto qualquer outra viagem: ledo engano. Como tudo na minha vida, tem que ser da forma mais dramática possível, na base do sofrimento, chororô e roda-da-fortunisticamente.
De uma Carta de Aceite que atrasou, aos mil documentos que se deve providenciar para tirar um visto, uma discussão nível baixo com a moça do Consulado e o gigantesco engarrafamento em Maceió por conta de uma obra, parecia que o visto estava amarrado e a viagem miaria a qualquer momento. Para o alívio – mais meu do que da nação -, saiu. Seis dias antes da viagem, mas saiu. Que fique bem claro que essa angústia foi dignamente compartilhada pelo “Ufal em Portugal”.
Malas prontas, tudo ok! E no caminho lado a lado, um passo errado tropecei”
A viagem é amanhã, as malas tão prontas! Depois de tanta viagem, é quase impossível não saber arrumar uma mala. Pesados embaixo, cuecas e meias separadas, necessaire, calça com a ponta pra fora para depois abraçar a mala e camisas de botão por cima das calças. Quase um mantra. Seguido rigidamente.
A maior surpresa foi ter redescoberto a necessidade de ter controle de tudo. Antes que a mala tomasse forma, fiz mil listas. Do que levar, do que comprar, do que não esquecer. Maior qualidade: pensar em tudo e conseguir, por uma vez na eternidade, ser organizado. Maior defeito: ser hipocondríaco e levar uma farmácia, o que me faz ter medo de não passar nem na alfândega.
A saudade é companheira”
Saudade não se prevê, se sente. E a medida em que for sentindo, compartilho. Agora é aproveitar o restinho de tempo e aproveitar a epopeia dos seis meses que começa amanhã.