Conversando com algumas pessoas, percebi que nosso despertar pra compreender uma cidade é algo meio louco.
Quando crianças, nos vemos numa casa, com nossa família e nos convencemos de que estamos ali porque “nossos pais escolheram”, “foi o que o dinheiro deu”, “essa casa é da família há muito” ou qualquer outro motivo que seja apresentado. Ir a outras casas de nossos familiares passa a ser uma aventura e notamos que existem outros lados da cidade.
Passear, ir à praia, ir ao shopping, brincar na praça. Parece que os retalhos vão se juntando. As ruas fazem a função da linha e o meio de transporte seria uma espécie de agulha. Percebemos que além dos lugares que a gente vai, existem outros próximos aos nossos e paisagens diferentes. Que nem todo mundo tem casa. Ou que existem pessoas que têm mais de uma.
Dessa descoberta, surge também a de que nem todas as casas são iguais, nem as paisagens. E o lugar que você ocupa na sua cidade pode dizer muito sobre você. É que existem linhas imaginárias (outras não tão imaginárias assim), vários meridianos e paralelos que nos separam enquanto cidade. Etiquetas que nos distribuem o tempo todo. E que tacitamente, aceitamos (e é muito mais fácil aceitar quando não é um desconforto lidar com isso).
Maceió é muito bonita, mas as praias são meio poluídas. Amigxs de fora, finjam que essa parte não está no texto. A Praia do Francês (a mais famosa) não fica em Maceió. Temos um acordo comum proposital de errar geograficamente e esconder a cidade de Marechal Deodoro do mapa (se você reparar bem, tem uma estátua gigante embaixo de um dos viadutos que te levam pro Francês indicando uma nova cidade). Corre que ainda dá tempo de aproveitar o litoral norte enquanto não tomam conta.
Longe de mim ridicularizar as belezas naturais daqui. Maceió é maravilhosa. Só que é muito mais do que uma água de coco à beira-mar (com o esgotinho do hotel sendo despejado por lá mesmo). Imagina se uma pessoa pudesse viver 200 anos. O quanto de história ela teria? Imagina agora que várias pessoas viveram nesses 200 anos aqui. Que estabelecemos relações das mais diversas possíveis. Maceió são pessoas, lugares, culturas. As mesmas pessoas que a gente cruza todos os dias na faculdade, nas ruas, no ônibus, no estágio, no trabalho. Outras pessoas que não conhecemos e que nem iremos conhecer.
Somos condicionados a pensar que Maceió é uma cidade bonita e violenta. Se de um lado a vitrine anuncia a beleza das praias e lagoas, o outro joga um balde com o “título” de 7ª cidade mais violenta do mundo. A “tensão” que a gente vive diz muito sobre nossa cidade. Fica cada vez mais evidente que quando empresas incorporadoras e construtoras, por exemplo, se apropriam de um espaço público, perdemos coletivamente. E perdemos principalmente porque reforçamos a crença de que só há civilização onde há asfalto, onde há cinza (a gente planta umas árvores pra proteger a camada de Ozônio).
E daí que a gente esquece que existem lugares de uma não-cidade. De uma Maceió mais esquecida do que os limites geográficos de Marechal Deodoro. De uma não-cidade que não tem os serviços mais básicos. Da iluminação ao saneamento, passando pela saúde e pela educação. Que existem pessoas de carne e osso, iguais a gente, que sentem as mesmas coisas, tem os mesmos desejos, as mesmas dores de barriga.
As vezes tudo é tão perto, mas tão longe ao mesmo tempo. Inclusive nossas relações interpessoais.
Resultado: uma cidade em que as pessoas só conseguem enxergar o medo e a beleza. A beleza, porque salta os olhos. É inevitável, quando a gente encontra alguém, nosso primeiro conceito sobre aquela pessoa é se ela é bonita ou não. O medo, porque a gente é alimentado cotidianamente por uma mídia, um judiciário, uma cultura, que diz que nosso inimigo pode estar exatamente do nosso lado. Que existe uma competição. Que não podemos sair de casa. Que é necessário nos isolarmos em condomínios, verticalizar, blindar. Que existem bairros que a gente não pode nem passar perto, e pessoas que assaltam, matam e cometem outros crimes por nada. Que contra estatísticas não há argumentos.
Sobreviver, adaptar, amar. Apropriar.
Talvez, para muitos, seja mais fácil escrever um texto parabenizando o Rio ou São Paulo. Está na hora de começar a tomar os rumos da cidade. Antes que tomem por completo.
Uma cidade muda não muda, e talvez essa foto (pra contrastar com tanta beleza natural) seja uma breve síntese do muito a ser feito. :)
Parabéns, Maceió!
Doca do Daga
sexta-feira, 11 de dezembro de 2015
domingo, 5 de julho de 2015
ponto-e-vírgula
“Toda história tem um começo.
E talvez começar seja o mais
difícil. Na verdade, nunca sei qual é a parte fácil. Porque nenhum final é um
fim. Até mesmo quando o maior dos meteoros nos destruir, haverá ainda
continuação. Apesar de não ter sobrado um dinossauro, sabemos que ao menos
existiram. E criamos ficções em cima disso.
O que pretendo falar hoje?
Ainda não sei. Talvez começar a colocar ideias num papel, mesmo que virtual. Tentar
ser uma pessoa mais leve. Equilíbrio. Eu fico pensando: as pessoas falam o que
a gente quer ouvir ou o que lemos nós adequamos ao nosso cotidiano?”.
Penso
isso enquanto termino mais um post aclamado daqueles blogs de autoajuda hipster que colocam uma foto aleatória que
até 2011 seria brega, mas, como tudo na vida, voltam a ser “ótimas leituras”, “recomendadíssimas”,
que explicam a solidão – apesar das redes sociais com mil amigos, muitas
curtidas, elogios, sdvs – o medo de ficar só ou de decepcionar quem esteja
consigo. E a intensidade.
Acho
que minha geração viu tanta série, que as vezes pensa estar em uma. E por isso,
as coisas devem acontecer milimetricamente ao acaso. Não chega a ser pessimismo
barato. Na verdade, acho que temos tantas respostas que elas só nos confundem
mais. E o que pesa aqui não é ter respostas, mas um equilíbrio de perguntas.
A
geração dos anos 90 cresceu. Pôs a cara no sol. E não poderia ser de forma mais
desastrosa. Sinto que algumas vezes falta propósito na vida. A gente é tão
cheio, mas tão vazio. Eu não sei se deveria escrever isso, enquanto coisas lá
fora me aguardam. Mas resolvi que precisava me dar um final de semana de
descanso. De desapego. Acho que é um possível investimento.
Investimento.
A palavra mais mercadológica pra descrever a vida.
[pausa]
21
anos e não sei bem o que fazer do futuro. Surgem possibilidades. Mas é como se
todas essas possibilidades estivessem flutuando e nenhuma me atraísse, por mais
tentadora que seja. Também, escolher uma profissão com 16 seja algo de extrema
(ir)responsabilidade.
Mas,
por qual motivo a vida tem que ser resumida profissionalmente? Lógico! Porque dizem que quando você não está bem no campo dos relacionamentos, o foco tem que ser
na carreira. Só que a carreira é feita também de relacionamentos.
Daí,
mais um desafio pra gente: ser bem sucedido nos dois. No campo pessoal e
profissional. Ostentar uma boa saúde, um bom comportamento, um bom emprego, sem
demonstrar que passou a vida inteira se comparando, se matando, gastando
qualidade de vida para ter “qualidade de vida”.
Tentei
fazer uma lista de coisas que gosto de fazer: percebi que não sei mais se tem
coisas que gosto de fazer. Percebi que a coisa que mais gosto de fazer é quando
não estou olhando para o relógio pensando no que devo fazer, neste caso:
dormir. É comum que o melhor momento do dia seja justamente aquele que não se
tem consciência de que se está fazendo algo?
O
primeiro semestre de 2015 foi de grandes perdas. Há um semestre ainda para ser
escrito. E não será obra milimétrica do acaso.
sábado, 5 de julho de 2014
Vomitei Copa.
Nunca gostei de futebol. Mas copa
é copa. De uma forma ou de outra, a gente se envolve. Tipo uma novela. É um
assunto que todo mundo tem algo a dizer, independentemente de qualquer coisa. É
bom rir da criatividade das pessoas, das alegrias compartilhadas e a sensação
de histeria que dá em toda gente.
No exterior, ver os jogos do
mundial, entender as emoções de pessoas de outras nacionalidades ao ver seus
ídolos e gols, mesmo que sejam minoria numa multidão de gente de outra
nacionalidade (beijo pro pessoal da Costa Rica) é um pouco indescritível. Enxergar-se
rodeado por outros brasileiros durante um jogo da seleção é particularmente
confortante, principalmente quando se nota que, há cinco meses, estava num
lugar ermo, desconhecido, sem qualquer referência geográfica ou afetiva e ser
brasileiro significava, muitas vezes, ouvir algum comentário maldoso (inocentemente
ou não) sobre o país.
Esse turbilhão de sentimentos, no
entanto, não significa qualquer minimização do massacre, expulsão da população
pobre e negra, a exploração sexual e as demais violações de direitos que foram
característicos desse (e de muitos outros) mundial. É um dos motivos que evito
cantar os gritos de guerra da torcida, viver intensamente qualquer sentimento patriótico
que tente ser transmitido. Sem falsos puritanismos, também não consigo separar
o futebol, e a consequente paixão, de toda a infraestrutura criada para que
houvesse a "Copa das Copas".
A “novela” da Copa não começou no
12/06/14 e os auges dramáticos não foram o gol contra da abertura (extremamente
simbólico, arrasou Marcelo!), o sufoco com o México, os pênaltis com o Chile ou
o recente machucado do Neymar. Tem gente sem casa, tem gente sem um parente,
tem gente sem vida. Tem gente sendo presa porque denuncia tudo isso. Tem uma
nação abrindo mão de sua soberania enquanto sua população grita gol.
Para além de tudo isso, a postura
de alguns - muitos - brasileiros vem me incomodando muito. Conhecidos por nossa
alegria, espontaneidade e receptividade, utilizamos o desígnio de "país do
futebol" (dada por sabe-se deus quem) para destilarmos comentários
xenófobos, racistas, misóginos, homofóbicos, transfóbicos para Deus e o mundo. Quando o jogo não basta, a petulância de gritar: "a Copa tá
comprada!". Um viaduto, construído para o mundial, caiu e matou duas
pessoas. Mas a vértebra do Neymar justifica o fim do “sonho do hexa”, justifica
xingarem, e ameaçarem de estupro a filha do jogador que atingiu –
acidentalmente, até que se prove que não - o camisa 10 da canarinha.
Por
enquanto, desejo melhoras ao Neymar, ao futebol-negócio, ao Brasil. Segue minha
indiferença, agora mais forte. Patriotismo (na real, a quem serve o patriotismo? "Os corações, assim como as pátrias, não deveriam ter fronteiras") e vontade de mudar o Brasil não
vão ser medidos por uma estrela a mais ou a menos no brasão da CBF.
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014
Dessa vez, literalmente.
Quando
criei o blog, a intenção era que fosse um espaço de escrever
pensamentos e bobeiras da vida. Nem isso deu certo. Depois da
empolgação primeira, faltou inspiração e só postei dois textos.
Retomando a ideia, ainda que falte inspiração, não faltará história pra contar.
Ainda que a gente
desconsidere a fase pré-intercâmbio e torça para que chegue logo a
grande data da viagem, os momentos que antecedem são essenciais.
Escolha da Universidade, Processo Seletivo, Passaporte, Visto, Malas,
Previsão do Tempo, tudo contribui para deixar a viagem mais nervosa
e garantir aquele frio na barriga.
Aleatoriedades,
rotinas e fugas.
Uma vez li em algum
lugar – tipo aqueles livros “ajude a melhorar seu cérebro” que
você lê durante o pré-vestibular – que era preciso forçar
mudanças para estimular melhor a capacidade cognitiva. Não entendo
muito disso (nem quis), mas “alternar os lados pelos quais se
começa a escovar os dentes”, “pegar caminhos diferentes para
chegar em casa”, “sentar em lugares diferentes no ônibus, na
mesa da cozinha...”, sempre me pareceu algo divertido e desafiador.
Não que isso tenha alguma relação com passar seis meses em Porto,
mas talvez explique um pouco do meu desapego e de tentar ver lado bom
nas mudanças, mesmo que sofridas.
O interesse por
viagens foi estimulado por meus pais. A gente sempre viajou, muito
mais por Alagoas e o Nordeste. Ficando mais velho e construindo uma
formação política, comecei a acompanhar os encontros e construir a
FENED. Balanço: cinco regiões do Brasil conhecidas. Pará, Ceará,
Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Rio
de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul. Conheci um pouco das
caras, sotaques, belezas e mazelas do Brasil.
“Ela não merece
esse prêmio, e para destruir o dela, eu quero o meu primeiro” e
a Geração Y.
Algumas pessoas me
perguntam como foi que a ideia do intercâmbio surgiu. Para quem quer
ter a oportunidade de ir por meio de uma bolsa, a exemplo do
Santander e do Ciência$ sem Fronteira$, é importante sempre
observar os editais de mobilidade que abrem na UFAL (F5 no site da
Assessoria de Intercâmbio sempre). Além dessas, existe também a
opção do próprio intercambista se bancar. Do formulário de
candidatura para a Universidade do Porto, pelo que observei, existe
uma gama de opções para quem tem o interesse de estudar por lá.
Um pouco de história.
Durante as calouradas (aquele período em que a gente tá mais
preocupado em tirar a “nhaca” de ensino médio e decorar os nomes
“das pessoas que vão passar cinco anos com você” do que prestar
atenção no que acontece nas oficinas), sempre citam a mobilidade
acadêmica. Eu também deixei passar despercebido. Algumas pessoas
foram falando sobre, e meu interesse começou a ser despertado.
Mas com tanta gente
boa, seria quase impossível conseguir uma bolsa, o que me deu uma
desanimada e me fez retomar o curso natural da vida, principalmente
porque o critério sempre fora o coeficiente (uma média ponderada
das notas acumuladas ao longo do curso). Minhas frustrações com o
direito nunca me permitiram um coeficiente maior do que 8,5, numa
sala de “coeficiente ostentação”.
Essa frustração com
o direito meio que me empurrou a conhecer novas faces. Centro
Acadêmico, Projeto de Extensão, Projeto de Pesquisa, Movimento
Estudantil... Imperceptivelmente, acumulei experiências válidas
também para o currículo. Foi aí que surgiu a oportunidade da
primeira tentativa: uma mobilidade para dentro do Brasil.
Depois de muitas
pesquisas e uns telefonemas (haha), decidi concorrer para a UFRJ e
bati na trave. Ótimo para a Ana (Aleijada), que teve uma das
melhores experiências da vida e brilhou no Rio de Janeiro.
Logo depois disso, a
FDA que mudava os critérios para aceitação de horas flexíveis,
definiu que criaria critérios para além do coeficiente na seleção
de bolsistas, estagiários e tudo que tivesse que selecionar. Ótima
iniciativa, por sinal, já que dá uma oportunidade, ainda que não
paritária (o peso é 5 para ensino, 2,5 para pesquisa ee extensão),
de estudantes extensionistas, pesquisadores e do movimento estudantil
também terem boas chances de serem selecionados. Surgiu o edital de
bolsas luso-brasileiras Santander, em que concorri e fui selecionado
como representante da FDA para a segunda fase.
A segunda fase é a
mais nervosa. Aquela em que te colocam de cara com todos os
concorrentes – que estão tão nervosos quanto você – para uma
entrevista com três professores. É aquela hora em que passam mil
coisas pela sua cabeça, em que mesmo que você tenha conversado com
outras pessoas que já passaram por esse momento, o corpo treme e
você se questiona se realmente está convencido de que deveria fazer
um intercâmbio e se sim, porque merecia mais do que as pessoas que
estavam ali.
Algo dolorido e não
saudável, principalmente quando, apesar de ser constantemente
bombardeado pelo individualismo e concorrência ferrenhos, você
tenta desconstruí-los. Certa vez, li um texto sobre a “Geração
Y” (pós “baby boom”) que apontava justamente como maior
defeito nosso, a crença ferrenha de que “se é diferente dos
outros e possui um diferencial: é tudo uma questão de te
encontrarem/uma oportunidade pra você deslanchar”. Nada mais
errado. Nunca me desconvenci que, apesar de uma formação acadêmica,
a minha função é ser mais uma peça para fazer a engrenagem rodar,
o ponto está em desfazer a engrenagem, mas na base da coletividade.
Depois de notar que
todo mundo também estava meganervoso e desconfortável, por qualquer
motivo que fosse com a situação, fiquei mais aliviado. Sempre que
vejo pessoas nervosas, acabo me acalmando de alguma forma. A
entrevista foi bem tranquila: quais meus interesses, porque o
intercâmbio, que universidade, currículo, projetos de pesquisa,
extensão, monitoria... Dias depois, o resultado dos cinco
selecionados.
O mais legal é que
durante as entrevistas troquei umas – boas - impressões com três
dos selecionados, o que fez com que as angústias com passaporte,
compra de passagens, seguro de viagem, visto, carta de aceite, fossem
compartilhadas.
“Geraldo,
prepara o táxi que eu tô indo pra Paris agora”.
Para quem (como eu)
acredita que organizar uma viagem de intercâmbio seria tão simples
quanto qualquer outra viagem: ledo engano. Como tudo na minha vida,
tem que ser da forma mais dramática possível, na base do
sofrimento, chororô e roda-da-fortunisticamente.
De uma Carta de Aceite
que atrasou, aos mil documentos que se deve providenciar para tirar
um visto, uma discussão nível baixo com a moça do Consulado e o
gigantesco engarrafamento em Maceió por conta de uma obra, parecia
que o visto estava amarrado e a viagem miaria a qualquer momento.
Para o alívio – mais meu do que da nação -, saiu. Seis dias
antes da viagem, mas saiu. Que fique bem claro que essa angústia foi
dignamente compartilhada pelo “Ufal em Portugal”.
“Malas prontas,
tudo ok! E no caminho lado a lado, um passo errado tropecei”
A
viagem é amanhã, as malas tão prontas! Depois de tanta viagem, é
quase impossível não saber arrumar uma mala. Pesados embaixo,
cuecas e meias separadas, necessaire, calça com a ponta pra fora
para depois abraçar a mala e camisas de botão por cima das calças.
Quase um mantra. Seguido rigidamente.
A
maior surpresa foi ter redescoberto a necessidade de ter controle de
tudo. Antes que a mala tomasse forma, fiz mil listas. Do que levar,
do que comprar, do que não esquecer. Maior qualidade: pensar em tudo
e conseguir, por uma vez na eternidade, ser organizado. Maior
defeito: ser hipocondríaco e levar uma farmácia, o que me faz ter
medo de não passar nem na alfândega.
“A saudade é
companheira”
Saudade não se prevê,
se sente. E a medida em que for sentindo, compartilho. Agora é
aproveitar o restinho de tempo e aproveitar a epopeia dos seis meses
que começa amanhã.
quinta-feira, 5 de julho de 2012
Do que eu aprendi/o na greve... - parte 1
Dizem alguns que o direito está nos Códigos, nos Tribunais e
nas peças processuais.
E nisso, cegamente, devemos passar a acreditar. O que mais
motiva a crença é a ausência desse direito nas ruas. Idolatramos doutrinadores,
jurisprudências, súmulas, personalidades jurídicas, letras frias,
preconceituosas e mortas. A velha máxima se torna o mais efetivo dos brocardos
latinos: na teoria, a prática é outra.
O mito da caverna aponta para a direção das trevas ao
horizonte, da ganância, da especulação imobiliária e do egoísmo. Existe ainda
um direito espancado, feito de sucata, pouco efetivado e que nunca pode vir a
ser, nesses moldes de sociedade, pela falta de crença: o direito à liberdade e
à felicidade.
O que temos para hoje é a curiosidade, o riso cariado, a
brincadeira de luta/tapa, o beijo melecado de batom, o carinho reprimido, o
não, não e não, que se reafirma em sua negatividade a cada piscar-brilhar dos
mesmos olhos curiosos. As mãos e tampas têm história! Uma história que quer ser
vivida, sobretudo, gritada: quero existir, quero minha casa, meu sustento e
minha dignidade!
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Teste da OAB: uma nova educação Jurídica é necessária, mas em que moldes?
“Educação não transforma o mundo.
Educação muda pessoas.
Pessoas transformam o mundo”.
Paulo Freire
A Faculdade de Direito de Alagoas (FDA-UFAL), na comemoração de seus 80 anos, recebeu uma notícia desagradável de grande repercussão pelas mídias locais, alunos e professores da instituição: a baixa aprovação no exame da ordem dos advogados do Brasil, com a conseqüente queda de 18 posições que ocupava no ranking das universidades de direito do país. A princípio, o que pareceu assustador, preocupando a forma pela qual se dá a construção do ensino jurídico aos futuros bacharéis alagoanos, é reforçado pela a mercantilização da educação, que transforma o estudante em um cliente, seja ele no âmbito público ou privado. Dessa forma, o cliente passa a ser transformado em números, dados e estatísticas.
São conhecidas algumas informações veiculadas de descrença no teste da OAB, dos lucros que a instituição angaria com esse processo, ou da impossibilidade de avaliação do conhecimento de um estudante por meio de uma prova específica. Por isso, trataremos aqui, de outro ponto de vista, a da formação jurídica a qual os discentes estão submetidos. Não se quer, com isso, justificar um “fracasso” da universidade da qual fazemos parte para conforto próprio ou dos que possam vir a ler o texto. Acreditamos, porém, que a preocupação e cobrança social não devam partir exclusivamente de um exame pontual aplicado ao fim do curso, que pouco prioriza a produção acadêmica e pode ser solucionado com estudos em um cursinho preparatório.
Sendo o Direito uma ciência social aplicada, este deve ser aprendido e compreendido no seio da sociedade. Portanto, um bom profissional do direito (rechaçando-se aqui o uso do “operador” do direito – direito não é máquina!) deve ser bem mais do que um simples banco de dados resultante de cinco anos de estudos e exames avaliativos dentro da faculdade. Logo, criticamos aqui o fato de acreditar-se que os bons estudantes são aqueles que tiram as maiores notas exclusivamente por decorarem aquilo que anotaram durante as aulas, estes não são bons estudantes e sim, reprodutores. Nossa concepção de educação perpassa os limites da sala de aula, isto é, o aluno não é um mero recipiente no qual o professor deposita seu conhecimento, ou seja, ela deve ser construída também tanto pelo estudante quanto fora da universidade.
Ao analisarmos o índice de desenvolvimento do estado de Alagoas, percebemos que não estamos numa boa posição e que, inclusive, nossa educação é uma das piores do país, bem mais estranho do que um índice de baixa aprovação no exame da OAB são estes. Porém, o que temos feito para reverter a situação, ou será que estudamos uma ciência humana apenas para lidar com o técnico? E o que os bacharéis com carteira da Ordem têm feito?
Recorremos ao artigo 207 da Constituição Federal, garantidor da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, o tão citado, mas pouco conhecido, “tripé universitário”. É bem verdade que o exame da OAB não dá qualquer valor aos dois últimos, logo, percebe-se que para a formação de um advogado ordinário, o único requisito é um ensino jurídico básico. Ainda com a existência de uma norma que assegure essa indissociabilidade o que se têm feito? Pouca coisa. Os TCC’s (quando obrigatórios), na maioria das vezes são reproduções do que doutrinadores já falaram; as extensões pouco dialogam com a sociedade, cabendo poucos exemplos louváveis de efetivas extensões. Aliás, são poucas as instituições privadas que conhecem esse tripé.
Não é a toa que, segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, o Brasil possui mais faculdades de direito do que o resto do mundo. A ausência de laboratórios, máquinas para estudos e o alta procura no “mercado da educação”, possibilitaram a explosão do curso que só necessita de uma sala de aula, um professor e clientes. Atenta-se para o fato de que fechar faculdades contribui somente com a restrição da educação para os que querem ter acesso a ela. É necessária uma fiscalização contínua do Ministério da Educação, que evite fraudes já conhecidas.
O Brasil obedece a uma lógica de mercado, cujo objetivo não é mais formar profissionais críticos, que saibam lidar com as mazelas sociais, buscando soluções conjuntas com a sociedade, mas sim, formar pessoas prontas para o mercado de trabalho, concurseiras, que se utilizem do ensino do direito enquanto forma de ascensão social, que permanecem em seus condomínios privados, cercas elétricas e carros com vidro fumê, crendo ser a “realidade” vista nos noticiários tão distante quanto as ficções da teledramaturgia.
Valorizar nossa educação jurídica não é adequá-la às provas do exame da ordem. Caso seja baseado em uma prova que avalia apenas o ensino jurídico e a capacidade de nossos estudantes de direito em assimilar e reproduzir o conteúdo numa prova, a solução é transformar as faculdades em grandes empresas de cursinho, fenômeno já conhecido pelos estudantes que passam pelo vestibular - acostumados a macetes e questões específicas da prova que quer prestar. Se ainda tivermos preocupações com a nossa população alagoana, com os abismos econômicos existentes e a idéia de injustiça social, o caminho é lutar por uma nova educação jurídica. Uma educação que não priorize a OAB, mas a tenha como conseqüência de um processo de formação educacional dos novos operários do Direito, preocupados, de fato, com a transformação social.
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