Nunca gostei de futebol. Mas copa
é copa. De uma forma ou de outra, a gente se envolve. Tipo uma novela. É um
assunto que todo mundo tem algo a dizer, independentemente de qualquer coisa. É
bom rir da criatividade das pessoas, das alegrias compartilhadas e a sensação
de histeria que dá em toda gente.
No exterior, ver os jogos do
mundial, entender as emoções de pessoas de outras nacionalidades ao ver seus
ídolos e gols, mesmo que sejam minoria numa multidão de gente de outra
nacionalidade (beijo pro pessoal da Costa Rica) é um pouco indescritível. Enxergar-se
rodeado por outros brasileiros durante um jogo da seleção é particularmente
confortante, principalmente quando se nota que, há cinco meses, estava num
lugar ermo, desconhecido, sem qualquer referência geográfica ou afetiva e ser
brasileiro significava, muitas vezes, ouvir algum comentário maldoso (inocentemente
ou não) sobre o país.
Esse turbilhão de sentimentos, no
entanto, não significa qualquer minimização do massacre, expulsão da população
pobre e negra, a exploração sexual e as demais violações de direitos que foram
característicos desse (e de muitos outros) mundial. É um dos motivos que evito
cantar os gritos de guerra da torcida, viver intensamente qualquer sentimento patriótico
que tente ser transmitido. Sem falsos puritanismos, também não consigo separar
o futebol, e a consequente paixão, de toda a infraestrutura criada para que
houvesse a "Copa das Copas".
A “novela” da Copa não começou no
12/06/14 e os auges dramáticos não foram o gol contra da abertura (extremamente
simbólico, arrasou Marcelo!), o sufoco com o México, os pênaltis com o Chile ou
o recente machucado do Neymar. Tem gente sem casa, tem gente sem um parente,
tem gente sem vida. Tem gente sendo presa porque denuncia tudo isso. Tem uma
nação abrindo mão de sua soberania enquanto sua população grita gol.
Para além de tudo isso, a postura
de alguns - muitos - brasileiros vem me incomodando muito. Conhecidos por nossa
alegria, espontaneidade e receptividade, utilizamos o desígnio de "país do
futebol" (dada por sabe-se deus quem) para destilarmos comentários
xenófobos, racistas, misóginos, homofóbicos, transfóbicos para Deus e o mundo. Quando o jogo não basta, a petulância de gritar: "a Copa tá
comprada!". Um viaduto, construído para o mundial, caiu e matou duas
pessoas. Mas a vértebra do Neymar justifica o fim do “sonho do hexa”, justifica
xingarem, e ameaçarem de estupro a filha do jogador que atingiu –
acidentalmente, até que se prove que não - o camisa 10 da canarinha.
Por
enquanto, desejo melhoras ao Neymar, ao futebol-negócio, ao Brasil. Segue minha
indiferença, agora mais forte. Patriotismo (na real, a quem serve o patriotismo? "Os corações, assim como as pátrias, não deveriam ter fronteiras") e vontade de mudar o Brasil não
vão ser medidos por uma estrela a mais ou a menos no brasão da CBF.